domingo, 22 de outubro de 2017

Sociedade de Aparências

Luciana Morais, do Brasil, pediu-me para escrever sobre algo que mencionei numa das minhas entrevistas: "Sociedade de Aparências". Eu considero sociedade não o número total de seres humanos, mas sim o grupo de pessoas que seguem comportamentos estipulados como normais. Pertence à sociedade quem precisa de um carro topo de gama. Ou aquela pessoa que se sente infeliz por não conseguir comprar o último modelo do telemóvel mais famoso no mundo inteiro. Esta infelicidade existe, é verdadeira, é sentida. É o resultado de milhões e milhões gastos em marketing, são milhões e milhões de imagens de pessoas felizes, realizadas até, porque possuem um objectivo material que pelos vistos todos querem.

Lembro-me de estudar na escola a pirâmide das necessidades de Maslow. Maslow dizia que a mente humana só é capaz de se questionar com algo intelectual, como trabalhos criativos e perguntas que desafiam o nosso conhecimento, se as nossas necessidades fisiológicas/materiais estivessem saciadas. Estas necessidades nada mais eram do que comida, água e abrigo. A nossa "Sociedade de Aparências" veio mudar este conceito. A Internet é uma necessidade básica hoje em dia. Como o computador. Como o telemóvel. Como a televisão por cabo. Como maquilhagem. Como o cabeleireiro. Como passar a noite  em frente de uma loja qualquer para ser o primeiro a comprar uma porcaria de um telemóvel. 






Estas necessidades básicas modernas têm uma grande desvantagem: nunca são supridas. O modelo mais avançado de uma porcaria qualquer depressa se torna num ridículo e ultrapassado monte de plástico. Por isso não há saciedade que mate esta fome. E tal como Maslow defendia, a nossa "Sociedade de Aparências" não consegue assim subir para patamares superiores, intelectuais. Como me questiono sobre a infinitude do Universo enquanto seguro o meu selfie stick? Como olho para o céu à procura de vida extraterrestre enquanto cobiço os sapatos da vizinha? 

Os nossos objectivos são não só cada vez mais fúteis, como caros. Já falei anteriormente em como não passamos de escravos. A questão é: será a nossa escravatura voluntária? E sendo assim, poderá ser chamada de escravatura, correndo nós de livre vontade atrás dos bens materiais e tecnológicos?



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