terça-feira, 24 de outubro de 2017

Mulher adúltera merece porrada







Não sou eu quem o diz, é o juiz Neto, do alto da sua sabedoria. Um juiz que ao que parece tem vindo a desculpar agressores com passagens da bíblia que criticam a mulher adúltera. Ora vamos lá analisar isto de forma crua, fria. Sei que sou mulher, mais do que isso, sou uma mulher que luta pelos seus direitos de igualdade no seu dia-a-dia, mas tenho a certeza que analisarei este assunto de forma mais imparcial do que este juizeco. Não é que seja difícil...


«Por outro lado, a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente. Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte.»


A mulher ficou com a cara negra, mas por outro lado... A mulher apresentou cinco costelas partidas à chegada do hospital, mas por outro lado... Ainda foi pouco! Parece que há sociedades em que o adultério (da mulher) é castigado com apedrejamento até à morte, ensina-nos este juiz, com uma cultura de quem só vai à missa e assiste aos vídeos do estado islâmico. Por isso não se queixe Sra. Adúltera mal criada que andou a praticar o 69 com o vizinho, tem muita sorte em não acabar você na prisão ou ainda pior.

Vamos lá ver se nos entendemos: há mulheres adúlteras, e há homens adúlteros. Não é bonito, nem é moral. Mas há mulheres vítimas, e homens agressores (salvo raras excepções). Estes são os factos. Um acto que ofenda a integridade física dentro de um casal é muito mais do que isso: é uma mensagem. Não são apenas nódoas negras, é uma mensagem. Clara. Eu detenho todo o poder. Tu fazes o que eu mando, porque eu sou o Chefe desta família. E passado algum tempo: a tua Vida está nas minhas mãos. A violência doméstica nada mais é do que diminuir o estatuto da mulher em menos de nada.

Pouco me interessa se a mulher teve um, dois, três ou mais amantes. Pouco me interessa se ela andou a experimentar o pénis de todos os amigos dele. E é aqui que muitos se interrogam, que ficam com dúvidas. Quer queiramos quer não, há vozes no inconsciente da mente humana que nos sussuram: "Quem brinca com o fogo...", "Ela também já estava a pedi-las", "Um homem também perde a cabeça". Até as próprias mulheres chegam a ter tais pensamentos! Só vos quero pedir que invertam a situação, que mudem o sexo das personagens. E se fosse um homem a trair? Teria a mulher o direito de o magoar, de o matar? Não! Mas sem dúvida que esta atitude iria gerar muito mais consternação...

Dá que pensar, esta sociedade patriarcalista em que vivemos. Em que, verdade seja dita, são tantas vezes as próprias mulheres a criticar e a apontar o dedo às outras. Deixo-vos com algumas perguntas: quantos homens adúlteros não vivem em Portugal? Quantos são ou foram vítimas de violência doméstica ou criticados na sociedade? Iria algum juiz perdoar a violência doméstica cometida por uma mulher, porque o homem adúltero é considerado na bíblia como um ser desprezível, ou se preferirem como o sr. juiz Neto diz, hipócrita, desonesto, desleal, fútil e imoral? 


Dá que pensar. 

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