sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Sou uma velha de (quase) trinta anos!

Sou uma velha de (quase) trinta anos. Longe vai o dia em que reparei na minha primeira ruga junto ao olho. O estado de choque foi imenso, mas isso já faz parte do passado. E esse, o passado, parece-me cada vez mais longínquo. Sei que há memórias que perdi para sempre... Quero recordar um determinado momento e apesar de saber que a memória está lá não me lembro do local, dos nomes, dos pormenores. Não tarda estou pior do que a minha avó, a trocar o nome a toda a gente.

Na minha mente ainda me vejo como se tivesse vinte e poucos... Com a vida pela frente, tantos caminhos possíveis de percorrer. Tantos futuros para tentar e tentar. Não fazia mal se o destino de um caminho não correspondesse às minhas expectativas. Caminhava até ao começo de uma nova etapa. Hoje já não me sinto fresca, cheia de energia, disposta a começar tudo outra vez. Hoje penso duas vezes antes de começar sequer a caminhar. Ainda sinto aquela menina que implora por mudança, sem medo. E embora queira mudar, e comece até a planear a mudança, os obstáculos antes pontapeados sem grande esforço são hoje pedregulhos gigantes, como as incertezas e dúvidas que crescem em mim.

E a tecnologia! Eu sou da geração que descobriu os telemóveis. Na minha adolescência ficávamos contentes por dar "toques". Hoje não vivemos sem as redes sociais, a maioria das pessoas tira mil selfies por dia! Eu costumava-me rir do meu avô por ele não conseguir mudar a hora no seu telemóvel super retardado, e por ele achar que eu poderia avariar a televisão por usar o teletexto. Eu já sou o meu avô e só tenho trinta anos! Eu já não percebo o que a maioria dos miúdos fala, não percebo nada das mil apps que utilizam!

Lembro-me como em criança achava os adultos super cuidadosos, aborrecidos. Sempre a pensar nas consequências dos seus actos... Hoje dou por mim a pensar no futuro também. Não como antes, contente por não saber o que o futuro me traria, mas a tentar controlá-lo. Serei eu uma adulta?




A vontade de correr por um caminho cheio de buracos com uma venda nos olhos e esperar pelo melhor morreu também. «O mundo ainda não te mudou», dizia-me o Lu ontem antes de adormecer. Será? Ainda quero mudar. Ainda sou essa criança. Mas e se não consigo pagar a renda? Mas e se a Roma precisa de um tratamento caro amanhã? Irá ela morrer porque eu não tenho dinheiro para pagar as despesas, só porque decidi arriscar? 

A responsabilidade cresce, já não sou nova. Sou uma velha de (quase!) trinta anos. E uma criança de (quase!) trinta anos.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Dois bolsos, Duas caras

Honra é uma palavra encontrada em livros antigos, hoje inexistente. É por isso passado. Já de nada servem as promessas de sangue, a palavra proferida. O que hoje é um sim, amanhã é um não. O que hoje é um sorriso, amanhã é uma lágrima. As palmadinhas nas costas depressa se tornam em pontapés. Que fizeste tu, ó ser racional, para acabares em tal destino egoísta? Dás vinagre a quem te deu um dia água, sorris desenvergonhado a quem te deu a mão para subir a escada. É vergonha que sinto por pertencer a tal raça.

Deitada no chão dou por mim a olhar para as pedras. Duras. Elas não amolecem só porque a chuva cai. Elas mantêm a sua forma, o seu pensamento, mesmo perante a maior das tempestades. Já o ser humano procura estar sempre virado de frente para o sol, de costas para os seus ideais. É o poder do dinheiro. É o poder do poder. Já não existem lutas de honra, o que mais vejo por aí são lutas de falsidade. Ganha aquele que conseguir enganar mais. E nós, os cegos, sorrimos porque acreditamos. E nós, os não cegos, deixamos de lutar porque a multidão está cega.




Há quem me pergunte: que podemos nós fazer?! Uma formiga passa ao meu lado, às costas leva uma migalha. E outra. E outra. Todas as formigas a caminharem na mesma direcção. Nenhuma quer roubar a migalha da outra. Nenhuma finge carregar a migalha que lhe pertence.

Há quem me pergunte: que podemos nós fazer?! Fingir que somos cegos também, mas com os olhos sempre prontos para abrir.