quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

"Conheça-me melhor!" - O dia em que visitei um dos territórios mais bombardeados de sempre.


Um dia decidi ir até Israel. Seis meses depois aterrava em Tel Aviv. Seis dias depois estava na fronteira com a Faixa de Gaza, a tirar fotografias na cidade mais bombardeada de Israel, Sderot. Turismo negro, talvez? Mas que não deixa de me cativar, como se houvesse uma força invisível a empurrar-me na direcção de tais lugares. Essa força chama-se curiosidade pelo desconhecido. Ali, por aquelas terras sagradas, eu caminhei os meus primeiros passos rumo ao encontro de mim mesma.

Como não consegui entrar na Faixa de Gaza (onde nem jornalistas são autorizados salvo raríssima excepção), o destino levou-nos até à Palestina, como para nos compensar. "Eu conheço uns seguranças que vos podem fazer uma visita guiada a Belém.", disse-nos um taxista que trabalhava para o hotel onde ficámos alojados. "Porque não?", pensei eu. Verdade seja dita, não pensei nos perigos que toda aquela experiência me poderia trazer. Fui ingénua, e arrisquei. Chegados então à fronteira entre Israel e Palestina, os tais seguranças palestinianos estavam já à nossa espera. Os israelitas não entram, e os palestinianos não saem, simples. Eram pai e filho, robustos e sorridentes, como podem ver nesta foto.



Aquele jovem nunca tinha visto o mar, embora vivesse tão perto do Mar Mediterrâneo. "Palestina não é um país, não é nada.", explicou-me ele. "Não posso ter um passaporte e é impossível atravessar a fronteira.", disse ao apontar para os guardas israelitas de armas na mão que caminhavam por entre torres colocadas no topo do enorme muro que divide estes dois países (veja o muro na foto em baixo). Atenção, não quero aqui defender ou acusar ninguém, cada qual sabe e defende os seus motivos. Na verdade, a minha opinião é a de que todos têm um pouco de razão.



Estes dois seguranças lá nos levaram ao centro de Belém. Pelas ruas preenchidas por prédios destruídos, bombardeados. "Olha ali um KFC!", gritei eu para o Lu. Eles sorriram. Fomos até à Basílica da Natividade. Na foto podem-me ver a tocar no sítio onde acreditam que Jesus nasceu. O segurança benzeu-se. "Sou católico.", como se tivesse de justificar o facto de ser católico por entre muçulmanos e judeus.



Levaram-nos depois a uma loja de souvenirs. "Não há governo, não há impostos, não há nenhuma moeda. Podem pagar em dólares, em euros ou em shekels.", explicou-nos o dono sorridente. Afinal toda a visita foi bastante calma, ou talvez tivéssemos tido sorte com os seguranças que nos calharam. Foi uma experiência, uma nova visão acerca do mundo.     

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