Sim, eu cresci sem um ídolo. E sim, apesar de ter tido posters do Nuno Gomes nas paredes do meu
quarto enquanto adolescente, ele não era o meu ídolo. Nunca houve um actor que
me fizesse palpitar o coração ou um músico capaz de me fazer arrepiar. Dizem
que é importante ter um ídolo, um exemplo a seguir, alguém que admiramos e que
acaba por nos inspirar. Talvez alguém com uma estória fascinante, que nos faz
acreditar que também nós podemos atingir os nossos sonhos, e então eles não
serão mais sonhos, serão a nossa realidade... Mas eu nunca tive, este ídolo que
toda a gente tem. Sempre tive as minhas preferências, mas faltava algo... Hoje
eu sei que era a emoção, o sentir que faltava.
Há cerca de um ano, aquando comecei a escrever o “Todos
Iguais, Poucos Diferentes”, num daqueles momentos em que a criatividade teima
em aparecer, fiz correr uma lista aleatória de músicas no Youtube. Houve no entanto uma música que me fez parar. Bohemian Rhapsody. Se eu já a tinha
ouvido, se eu já te tinha ouvido? Claro que sim! Mas então percebi que te
estava a escutar pela primeira vez. Como aquelas pessoas que vivem à nossa
volta, falam para nós, e nós respondemos. Até que um dia percebemos que a sua
voz mudou, que o seu aspecto brilha, porque prestámos atenção àquele ser e
percebemos que há nele algo diferente, que nos agrada. Foi isso que aconteceu
comigo, contigo Freddie. Comecei então a ouvir, a ouvir sem parar e não me
cansava! E logo eu que me canso tão facilmente de tudo o que ouço, de tudo o
que me rodeia! Comecei a pensar: teria eu um ídolo? Gosto de
pensar mais em ti como um amigo que me segreda ao ouvido o que eu preciso
tantas vezes de ouvir, que me faz rir, que me faz chorar, que me faz sentir! É
tudo tão mais profundo. Não são notas musicais aquelas que tu cantas, mas antes
vibrações do nosso ser, intelectual e genuíno. Como me entendes se mais ninguém
o consegue?
Nunca poderei assistir a um concerto, muito menos pedir um autógrafo.
Contratempos da minha vida. Agora que te encontrei, agora que encontrei o meu
ídolo (finalmente!), já não estás aqui. Se existe vida para além desta morte
que vivemos sei qual vai ser o meu primeiro pedido: conhecer-te. Até mais logo
então.